Incêndios em hospitais disparam 75% e expõem risco elétrico no Brasil

Brasil registrou 21 ocorrências nos dois primeiros meses de 2025; casos recentes no RJ e ES acenderam alerta no setor
Em um hospital, cada detalhe pode significar a diferença entre a vida e a morte, mas pouco se fala sobre a complexidade da operação dessas instituições, especialmente no que diz respeito à eletricidade.
Diferente de um apagão em um prédio comercial, uma falha elétrica em um hospital pode interromper uma cirurgia em andamento, desligar um respirador em uma UTI neonatal ou comprometer a refrigeração de medicamentos vitais. Um respirador desligado por três minutos pode ser suficiente para condenar uma vida. Um bisturi elétrico interrompido no meio de uma cirurgia pode complicar um procedimento antes simples. Um monitor cardíaco fora do ar pode atrasar um diagnóstico crítico.
E os números mostram que o risco não é hipotético. Entre 2018 e 2021, o Brasil viu os incêndios em hospitais mais do que dobrarem, passando de 24 para 52 casos, um aumento de 116,6%, segundo levantamento do Instituto Sprinkler Brasil (ISB), organização sem fins lucrativos dedicada à pesquisa, divulgação e conscientização sobre a prevenção e combate a incêndios. Nos dois primeiros meses de 2024 e 2025, a situação se agravou ainda mais, e os registros subiram 75% em relação ao mesmo período anterior, totalizando 21 ocorrências apenas nesses meses. Em março de 2025, dois casos de incêndio foram registrados em edificações de serviços de saúde: em uma clínica médica localizada em Vila Velha (ES) e outro em um hospital municipal na zona norte do Rio de Janeiro.
“Uma falha elétrica hospitalar pode significar uma crise com vítimas potenciais. Cada número representa uma ameaça direta à vida de pacientes e profissionais. É por isso que os sistemas de energia em hospitais precisam ser pensados de forma diferente, com redundância, proteção e continuidade absoluta”, alerta Fábio Amaral, Engenheiro Eletricista e CEO da Engerey.

Fábio Amaral, Engenheiro Eletricista e CEO da Engerey
Outro caso foi o de um hospital em São Paulo, em 11 de janeiro de 2024, que deixou uma marca profunda. Uma pane elétrica causou fumaça no prédio e obrigou a transferência de 47 pacientes. Durante o incidente, uma paciente de 94 anos sofreu uma parada cardíaca e faleceu.
Mas não se trata apenas de tragédias isoladas. De acordo com a Abracopel (Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade), em 2024 o Brasil registrou 2.373 acidentes elétricos, incluindo choques, curtos-circuitos e sobrecargas, com 759 mortes. Embora esses números englobem residências e indústrias, eles escancaram a fragilidade da infraestrutura elétrica no país.
"Em hospitais, onde vidas estão diretamente conectadas a equipamentos, a margem para falhas simplesmente não existe", diz Amaral. Ele explica que, por essa razão, os sistemas elétricos hospitalares devem seguir um alto padrão de qualidade e eficiência: “Sugerimos que sejam utilizados painéis elétricos com dispositivos conectados, capazes de identificar em milissegundos qualquer anormalidade na distribuição de energia. E ainda, providos dos dispositivos corretos, se ocorre um curto-circuito em determinado setor, o sistema é capaz de isolar um determinado problema elétrico imediatamente. Como, por exemplo, que uma fuga de corrente cause choques em respiradores, incubadoras ou equipamentos de cirurgia”, complementa o CEO da Engerey.
Atualmente, existem soluções no mercado nacional que oferecem alto índice de segurança e confiabilidade. É o caso da tecnologia PrismaSet, da francesa Schneider Electric, produzido no Brasil pela Engerey. Trata-se de painéis elétricos de baixa tensão com integração em Iot (Internet das Coisas) e tecnologia em nuvem, o que permite uma supervisão em tempo real de seus componentes, independentemente da localidade em que o usuário esteja. Calcula-se que o monitoramento evita cerca de 50% das falhas ocorridas em painéis.
Além disso, hospitais devem contar com geradores de emergência e no-breaks que entram em operação instantaneamente para manter equipamentos críticos funcionando: um tipo de engenharia desenhado para garantir a continuidade absoluta da energia.
“O sistema elétrico é o coração da infraestrutura de um hospital. É tão vital quanto a equipe médica”, reforça Fábio Amaral.



