Engerey na Folha de Londrina
Aparelho salva vidas, mas é negligenciado
O Dispositivo Diferencial Residual (DR) é obrigatório e capaz de evitar 100% das mortes e acidentes por eletricidade, mas não está presente no quadro elétrico da maioria das residências.
Por Amanda de Santa
Especial para a FOLHA
Só quem já sofreu um forte choque elétrico entende a importância de se cercar de todos os equipamentos e cuidados possíveis para evitar que acidentes com eletricidade aconteçam. É o caso do hoje cozinheiro Adriano Kimio Koga da Silva, de 41 anos. Em abril de 2015 ele trabalhava na montagem de palco e iluminação para uma banda no interior da Paraíba quando encostou, acidentalmente, em um fio descascado e recebeu uma forte descarga elétrica. "Fiquei uns 40 segundos tomando choque e acabei pendurado de ponta cabeça, porque desmaiei", conta.
A sorte de Silva foi ter recebido os primeiros socorros de uma enfermeira que estava no local antes de ser levado para o hospital. Ele teve queimaduras graves no braço e no tórax. "Graças a Deus, não tive sequelas. Mas se o socorro tivesse demorado mais eu teria morrido", garante. Segundo ele, quando a descarga elétrica percorre o corpo, todos os músculos travam e se contraem. "Cinco segundos duram uma eternidade. Só deu tempo de dar dois gritos. Na hora, eu não senti dor, mas uma enorme agonia e vontade de acabar com aquela sensação", lembra.
Após o acidente, ele confessa ter redobrado os cuidados no trabalho. "Pesquisei e comprei mais equipamentos de segurança, que nem eram exigidos por lei, para não correr mais riscos", diz. E este é um comportamento que deve ser seguido não apenas por profissionais que trabalham diretamente com a eletricidade, mas por todas as pessoas dentro de suas próprias casas. Tomadas sem proteção, fios desencapados, extensões e fuga de corrente em eletrodomésticos são as principais causas de choques. Mas o que a maioria dos brasileiros não sabe é que o uso de um simples aparelho, chamado Dispositivo Diferencial Residual (DR), é capaz de evitar 100% das mortes e acidentes por eletricidade.
O engenheiro eletricista da Copel em Londrina, Fábio Rodrigo Milanez, explica que o DR é um interruptor automático que desliga correntes elétricas de pequena intensidade – da ordem de centésimos de ampère – que o disjuntor comum não consegue detectar, mas que podem ser fatais se percorrerem o corpo humano. "Ele desarma os disjuntores onde está o problema, para evitar que alguém se acidente", resume. O dispositivo, além de proteger pessoas de choques, também evita curtos-circuitos e incêndios, que podem causar danos ao patrimônio. Apesar de ser obrigatória desde 1997 (NBR 5410), a instalação do DR, que tem vida útil de 10 a 15 anos, é negligenciada na maioria das residências.
O dispositivo também funciona como um "dedo-duro" de instalações elétricas mal feitas. "É por isso que a maior parte dos profissionais não qualificados não o utiliza", justifica o engenheiro eletricista e diretor da Engerey Painéis Elétricos, Fábio Amaral. O DR derruba o circuito sempre que identificar algum tipo de irregularidade. "Às vezes, a pessoa usa o chuveiro e cai o disjuntor. Ela acha que é o aparelho que está fraco. Mas se o chuveiro está consumindo mais energia do que a capacidade do cabo instalado, quando o disjuntor cai, ele faz apenas a sua função. O problema, na verdade, está na instalação elétrica e não no dispositivo. Se o DR for retirado, pode chegar um momento em que o chuveiro pegue fogo e aí não vai ter disjuntor para interromper o circuito", avisa.
Para garantir uma instalação adequada e segura, Amaral recomenda a compra de quadros elétricos prontos, feitos por indústria especializada, e que já vem com projeto elétrico e responsável técnico. "Eles já são vendidos dentro das normas e basta o eletricista instalá-lo. O máximo que pode acontecer é colocar errado e não funcionar", afirma. Outra recomendação é garantir a contratação de um profissional habilitado e certificar-se da instalação do DR e do protetor de surto – que protege a parte interna da residência, desligando a energia da rede elétrica quando há uma descarga atmosférica muito forte.
